edição 7
| junho de 2006
antúrio lamber sua flor
o zelador Trocaram
o zelador da garagem. Um senhor simpático e muito prestativo deu seu
lugar a um homem magro e cabeludo, com
olhos de fome. O radinho de pilhas que costumava ficar sintonizado
nas notícias passou a tocar músicas clássicas ou um insuportável som ambiente. No
prédio onde eu moro não tem estacionamento, por isso alugo um box
nessa garagem em frente. Entro e saio com o carro em horários diversos.
Às oito horas, quando vou à academia, ele está varrendo a calçada. Finjo não perceber
o seu olhar de canto para o meu corpo metido em roupas de ginástica.
Volto para casa, tomo banho e vou trabalhar. Meu box fica ao fundo,
sendo um dos mais distantes do portão. O som dos meus saltos altos
ecoa na garagem e se misturam à
respiração do homem que me
observa. À noite, essa travessia é iluminada por lâmpadas fotossensíveis
ao movimento. Às
vezes, trocamos algumas palavras sobre o tempo. Na verdade,
fui eu quem puxou assunto.
Tenho essa mania de querer fazer amizade com àqueles que, de alguma maneira, me perturbam.
Ele responde aos meus comentários, sem estender a conversa. Não é
de muitas palavras. Tem uma voz grave, embora fale baixo, quase sussurrando. Nesse
dia, deixei para ir à academia no final da tarde, pois o trabalho
estava acumulado e quanto antes eu chegasse ao escritório seria melhor.
Quando saí de lá, cansada e molhada de suor, já começava a escurecer. O trânsito
nas proximidades da minha casa estava um inferno, nenhum farol funcionava
e os guardas tentavam controlar os ânimos dos motoristas enfurecidos.
Faltava luz no bairro e, com a chegada da noite, o caos se aproximava.
Consegui
fugir do tumulto por uma via lateral. Cheguei à garagem que estava
com o portão aberto. Não vi o zelador. Acendi o farol alto para conseguir
estacionar na minha vaga. Desliguei o motor, apaguei o farol e peguei
a minha bolsa. Quando me virei para fechar a porta, senti um corpo
atrás de mim, que me empurrava contra o veículo e uma mão que tapava
a minha boca com força. Tentei ver quem era o meu agressor, mas ele
não deixou, forçando o meu pescoço para frente.
Com a outra mão, ele explorava os meus seios. Ouvimos um barulho de
motor. Ele, então, se apressou, baixando as minhas calças e encaixando
seu sexo no meu. Senti uma mistura de dor e prazer. Quando ele acabou,
me jogou para dentro do carro, se livrando da situação. Acordo
com a luz do sol entrando pelas janelas do meu quarto. Meu corpo dói.
As roupas de ginástica me apertam. Minha bolsa está caída e minhas coisas espalhadas pelo chão.
Recolho tudo. Olho o relógio do celular que marca oito horas. Vou para o banheiro e me olho no
espelho. Quase não me reconheço. Coloco uma roupa para ir trabalhar. Ouço
vozes vindas do portão da garagem. Chego mais perto e vejo dois homens
conversando. Um eu conheço: é o Seu João, o zelador. O outro é bem
mais jovem e alto. Eles
notam a minha presença. Seu João vem na minha direção. —
Júlia, esse é o Roberto. Ele vai ficar no meu lugar, enquanto eu tiro
umas férias. O
homem se aproxima, estendendo a mão: —
Oi. Se você precisar de alguma coisa... Sua
voz é grave. E ele fala baixo, quase sussurrando.
alb um palito separa
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