edição 28 | julho de 2008
temas:  inseto | caos

 

insetolândia
santa maria
   

Por que o mundo é finito?

Debateu-se preso no copo,

o desesperado mosquito.

 

Eu sou uma estrela!

Iluminou-se o feliz vaga-lume,

pela noite inteira.

 

Dê-me o mais doce do seu amor!

Pediu a ansiosa abelha,

pousando em mais uma flor.

 

Então a vida pode ser mutante!

Maravilhou-se a borboleta,

saindo do casulo naquele instante.

 

E qual é a graça?!

Perguntou com coragem ao inseticida,

a suicida traça.

 

Que destino chato!

Gritou com piedade a barata,

ao ser achatada pelo sapato.

 

O planeta é oco!

Lastimou-se a solitária minhoca,

no fundo do poço.

 

Que grande acontecimento!

Deliciaram-se os famintos vermes,

após o sepultamento.

 

2 microcontos
simone santana
 

Louva–deus

Enquanto sangro, ele pousa sobre mim de mãos postas.

 

 

Caos

 

Num sei lê caos de quê num tem escola.

 

 

 

caos
 
a vida anda lerda
arrasta-se lesma
marcha-lenta
mescla de merda
com porra alguma
 
a vida [boca suja]
bamba na corda
pega no tranco
leva na bunda
 
a vida anda nas últimas
goza nas coxas
cochila no ponto
 
a vida anda às cegas
fraca das pernas
no osso do ócio
 
no fundo
a vida desanda
e não enxerga
a medida do poço
 
a vida está um caco
um buraco cósmico
tremendo saco
 
anda puta da vida
e ainda declama
seu caos tragicômico
 
a vida poeta
percebe poesia
no olho do
vácuo

 

polaróides
virna teixeira

ao folhear o álbum perdido, olhando para a câmera. stills de um

filme antigo

 

auto-retrato, jogo de aparências: atrevimento, concentração. office killer,

nadadora, naïve. de pernas cruzadas, sentada na janela

 

já não reconhece mais as perucas, os disfarces

 

as imagens se desintegram. são apenas paródias, mutilações

 

corpos de manequins de plástico desmembrados, disformes

 

 

 

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