edição 22 | novembro de 2007
tema livre ou diadorim

 

a diferença
adriana oliveira

Eu sempre quis saber o que elas fazem de diferente. E, foi na faculdade, quem diria, que tive a oportunidade. Já no primeiro dia de aula, no momento destinado às apresentações, ela anunciou:

- Meu nome é Sílvia, tenho 25 anos e sou garota de programa.

Achei muita esperteza da parte dela ir logo avisando o que faz para viver. Mais cedo ou mais tarde todos ficariam sabendo e começariam as fofocas, as risadinhas, os olhares de reprovação ou de inveja pela sua beleza e sucesso profissional.

Sílvia foi mais rápida, surpreendendo a todos com a sua cara de pau.  Eu não resisti e puxei uma conversa, elogiando a sua coragem. Ela respondeu com um sorriso, dizendo:

- É marketing.

Gostei mesmo dessa Sílvia e, sempre que possível, sentava-me ao lado dela na aula. Até que o professor passou um trabalho que deveria ser feito em duplas. Ela disse que podia ser na casa dela e eu aceitei, pois estava louca para conhecer a sua intimidade. Não encontrei nada de mais. Era um apartamento de dois quartos, bem iluminado, com poucos móveis, mas de muito bom gosto. Nada de espelhos, nem de vibradores espalhados pela casa. Ela me esperou com chá e salgadinhos, como uma perfeita anfitriã.

Fizemos o trabalho e depois partimos para uma conversa mais informal. Eu parti, diga-se de passagem:

- Você fica chateada se eu te fizer umas perguntas?

- Eu já esperava por isso.

- Se você não quiser, não precisa...

- Vai lá. Pode perguntar.

- Eu sempre quis saber o que vocês fazem de diferente.

- Como assim?

- Lá. Na hora do rala e rola. Como que é?

- É normal. Sexo é sexo. Oral, anal, vaginal.

- Isso todo mundo faz. Não pode ser. Deve ter alguma coisa a mais...

- A diferença é que eles estão pagando e não precisam se esforçar para agradar. Não tem vínculo, entende?

- Mais ou menos.

- Tem muito cara casado. Eles querem uma novidade, mas sem correr o risco da mulher ficar sabendo...

- E como eles são?

- Depende. Tem de tudo. Por que você não experimenta? 

- Eu? Nunca.

 

O nome dele é Mateus. Mateus. Meteu(s). Tô rindo de nervosa. Marcamos o programa para as onze horas, na casa dele. Sílvia me deu o endereço. Toco a campainha. Ele abre a porta. Vejo um homem bonito que acaba de sair do banho, vestindo uma bermuda e uma camiseta.

- Então você é amiga da Sílvia.

- Pois é... Ela tá viajando.

- Não tem problema. Você quer beber alguma coisa? Um uísque? Uma cerveja?

- Pode ser uma cerveja. 

- Vem comigo. Você também faz Direito?

 Depois de umas três cervejas, ele pulou em cima de mim. Achei que eu teria que esforçar na performance, mostrar serviço, mas não, foi o contrário, foi ele quem se puxou. Meu Deus, que trabalho fácil. Um cara educado, gentil e bom de cama. Nem precisei fingir. A segunda vez foi melhor ainda.  Seria sempre assim ou eu tirei a sorte grande?

Simplesmente adorei o Mateus e não resisti:

- Posso te ligar amanhã?

- Não precisa. Eu te pago agora mesmo.

 

 

1 conto
andréa del fuego
 

Sou o diário de um príncipe afeminado. Trancado num quarto, se um soberano me descobre, o príncipe perde a sucessão e não subirá ao trono. Engano do príncipe é achar que preciso de um curioso pra escapar da gaveta, cuja chave dorme no travesseiro. Nunca durmo, não me deito e apago. Passo por debaixo da porta, caso um ouvido especule se há segredo tão secreto quanto este, eu, mantido no escuro pra não perturbar outro sigilo: fui escrito pelo filho e já lido pelo pai.

 

 

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