edição 22
| novembro de 2007
a diferença
Eu sempre quis saber o que
elas fazem de diferente. E, foi na faculdade, quem diria, que tive a
oportunidade. Já no primeiro dia de aula, no momento destinado às
apresentações, ela anunciou: - Meu nome é Sílvia, tenho
25 anos e sou garota de programa. Achei muita esperteza da
parte dela ir logo avisando o que faz para viver. Mais cedo ou mais tarde
todos ficariam sabendo e começariam as fofocas, as risadinhas, os olhares
de reprovação ou de inveja pela sua beleza e sucesso
profissional. Sílvia foi mais rápida,
surpreendendo a todos com a sua cara de pau. Eu não resisti e puxei uma
conversa, elogiando a sua coragem. Ela respondeu com um sorriso,
dizendo: - É
marketing. Gostei mesmo dessa Sílvia e,
sempre que possível, sentava-me ao lado dela na aula. Até que o professor
passou um trabalho que deveria ser feito Fizemos o trabalho e depois
partimos para uma conversa mais informal. Eu parti, diga-se de
passagem: - Você fica chateada se eu
te fizer umas perguntas? - Eu já esperava por
isso. - Se você não quiser, não
precisa... - Vai lá. Pode
perguntar. - Eu sempre quis saber o que
vocês fazem de diferente. - Como
assim? - Lá. Na hora do rala e
rola. Como que é? - É normal. Sexo é sexo.
Oral, anal, vaginal. - Isso todo mundo faz. Não
pode ser. Deve ter alguma coisa a mais... - A diferença é que eles
estão pagando e não precisam se esforçar para agradar. Não tem vínculo,
entende? - Mais ou menos.
- Tem muito cara casado.
Eles querem uma novidade, mas sem correr o risco da mulher ficar
sabendo... - E como eles são?
- Depende. Tem de tudo. Por
que você não experimenta?
- Eu? Nunca.
O nome dele é Mateus.
Mateus. Meteu(s). Tô rindo de nervosa. Marcamos o programa para as onze
horas, na casa dele. Sílvia me deu o endereço. Toco a campainha. Ele abre
a porta. Vejo um homem bonito que acaba de sair do banho, vestindo uma
bermuda e uma camiseta. - Então você é amiga da
Sílvia. - Pois é... Ela tá
viajando. - Não tem problema. Você
quer beber alguma coisa? Um uísque? Uma cerveja? - Pode ser uma cerveja. - Vem comigo. Você também
faz Direito? Depois de umas três cervejas, ele
pulou em cima de mim. Achei que eu teria que esforçar na performance,
mostrar serviço, mas não, foi o contrário, foi ele quem se puxou. Meu
Deus, que trabalho fácil. Um cara educado, gentil e bom de cama. Nem
precisei fingir. A segunda vez foi melhor ainda. Seria sempre assim ou eu tirei a
sorte grande? Simplesmente adorei o Mateus
e não resisti: - Posso te ligar
amanhã? - Não precisa. Eu te pago
agora mesmo.
1 conto Sou o diário
de um príncipe afeminado. Trancado num quarto, se um soberano me descobre,
o príncipe perde a sucessão e não subirá ao trono. Engano do príncipe é
achar que preciso de um curioso pra escapar da gaveta, cuja chave dorme no
travesseiro. Nunca durmo, não me deito e apago. Passo por debaixo da
porta, caso um ouvido especule se há segredo tão secreto quanto este, eu,
mantido no escuro pra não perturbar outro sigilo: fui escrito pelo filho e
já lido pelo pai.
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