edição 22 | novembro de 2007
tema livre ou diadorim

 

um gim em ipanema
dominique lotte

no Irish Pub

um gim pra me acompanhar

na noite pagã,

o programa está traçado,

jantar no Guimas de Ipanema

e depois um cinema,

o entendimento termina

com cigarros apagados

depois do sexo cansado:

gosto dela?

 

atrasos, sorrisos formais,

perguntas invasivas,

respostas evasivas.

falatório vazio,

é o que todo homem atura

se quer mulher à altura,

se o cara acha ruim

melhor ficar em casa,

assistir na televisão paga

filme sacana,

o relógio acima do bar

mostra atraso fora do normal,

o gim só consegue me deixar mal,

o bicho hoje vai pegar:

gosto dela?

 

está na minha frente

estonteante, bela,

recebo-a com um gélido "oi!",

de relance nos olhos dela

faíscas mal dissimuladas

de desagrado,

o sorriso pré-fabricado

apaga dos olhos

as centelhas assassinas,

"desculpe o atraso!":

gosto dela?

 

com voz de metal

pergunta o usual:

"pra onde vamos?"

acabo meu gim medicinal,

levanto-me fera ferida,

berro feito animal:

"pra cama!"

 

ainda gosto dela?

 

 

 

 

soneto neblina
florbela de itamambuca

 

tudo ou nada perdi com o tinhoso

vem saudade no canto da saíra

meu caminho trançado com embira

entreguei ao menino curioso

 

ê meu deus quanto sei do que preciso?

nessa vida aprendi que o mundo gira

negaceio um raspão na ziguizira

quexada de jumento em cão nervoso

 

adão escurraça deus do paraíso

cobra escorrega o corpo a língua e o guizo

perdição esconde o rosto na neblina

 

passarinho esvoaça essa cortina

ilumina seu corpo e meu sorriso

me leva na janela da menina

 

 

 

pistas
jane sprenger bodnar

 

beirais na praia aninham andorinhas

o vôo das quentes estações

não lhes permite erigir museus

deixam escrito o verão

em fios de luz

 

 

 

 

quando nasci
jussara salazar

havia árvores brancas

em forma de

lua

papéis co

m vestidos desenhados

vestidos cor de chuva

 

Uma lua

em forma de lua

Dios

es fllutuando

ao vento sussur

rando palavras mágicas em su

a

diminuta língua

 

Com assombro o bosque

cobria a terra escura d

o jardim.

Las cravinas brancas, púrpuras, lises

e ninguém

e tudo

como um mar

infinito

 

 

 

 

compartilhar:

 
 
temas | escritoras | ex-suicidas | convidadas | notícias | créditos | elos | >>>