edição 21 | outubro de 2007
espelho

 

thriller
dominique lotte

o mestre Hitchcock perdeu esse thriller

sobre um velho poeta que se rendeu ao espelho

e se trancou no quarto e sua vida virou

imagem invertida, em vão tentou se ver

como os outros o reconheciam

 

um dia os vizinhos invadiram seu esconderijo,

mas o velho ligeiro desapareceu no espelho,

os que depois foram morar no mesmo local,

tiveram parentes seduzidos

pelo velho detrás do /mirror/

 

a lenda invadiu como um poema

a imaginação dos ousados inquilinos

e no guloso espelho todos se reconheceram

da cintura para cima, o lado esquerdo

sobreposto sobre o direito

 

alguns juram que suas imagens faziam caretas,

e ruídos estomacais, o dito poema era mal-educado,

relaxem e se divirtam, sigam seu capricho,

esse poema tem seus olhos.

 

esse poema tem sua cabeça

esse poema tem os braços dele

esse poema tem os dedos dela

 

esse poema é o leitor

e o leitor é o poema

 

 

soneto cetim
florbela de itamambuca
 

"Quando nada acontece, há um

milagre que não estamos vendo"

Guimarães Rosa (O Espelho)

 

domingo dia fincado na semana

barco ondula o mar cobre a areia seca

corda destarrachando na rabeca

quanto mais prende tanto mais espana

 

olho o espelho reflete minha cama

penso nela alegrias de munheca

eu lá parada em tranças de boneca

minha mão coça abana o suor engana

 

fica o rosto de lado isso assim

vento atiça os cetins do pau da fita

eterniza essa imagem dia sem fim

 

lambuza breu no arco rabequista

cirandeiro que canta só pra mim

mas seus versos meu corpo é quem recita

 

 

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