edição 17 | junho de 2007
poema de um poeta que não existe

 

soneto riacho
florbela de itamambuca

meu pai sumiu de casa eu bem pequena

achei foi bom meu pai que deu azar

mamãe teve outro logo pra casar

mas logo apodreceu numa gangrena

 

vovó fez reza de índio vestiu pena

e o ispirto juremou fundo no mar

depois vovó morreu e par com par

meu vô seguiu desfiando uma safena

 

então sobrou foi eu tocando o barco

faço fío puxo assunto estico a frase

remo o rio sopro o ar flecha sem arco

 

meu tempo chega nem que o riacho atrase

de igarapé pra rio pra mar... cruz marco

pra eu morrer de saudade foi por quase

 

 

 

1 poema
jane sprenger bodnar

cigarras geladas

uivam ao meio-dia

 

guinchos

 

embriagando

os últimos ventos

da paisagem

 

 

 

paisagem invisível
jussara salazar

Entre dois horizontes, um elástico sustenta o sol: as nuvens, o nada

e o látex livro,

goma flexível reparte-se ao ouro amarelo.

Dois gatos-do-mar

                       [solitários]

devolvem-me um olhar-enigma

que entre os espaços das dobras do papel

dissolve cores e tesouros presos na concha-casca

que desdobra vira um peixe azul-saudade

- a água cristalina cobre

inunda a superfície do corpo papel.

No traço à margem, o desenho engana o olho numa onda

queixa-sequebra-desfaz os dáblius -

[water]

e o riscado líquido apaga o austro [Wind]

como um sopro

       varre

                 pé-de-vento

a seda macia do verde papel que voa de tédio e assim borboleta

ondula as letras

de vidro de pedra

as letras,

duros riscos de grafite, arabescos descascados 

rabiscando sobre o peixe azul-saudade e os gatos-do-mar a palavra

                              i-n-e-x-i-s-t-ê-n-c-i-a.

 

 

 

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