edição 17 | junho de 2007
poema de um poeta que não existe

 

geada
roberta silva  

 

 

Partida, irremediavelmente, a pétala do lábio

ao toque mecânico da língua há pouco desperta

pressentiu o estrago, até então desconhecido,

dos anos de exílio solar.

 

Permaneceu imóvel.

Paralisava-o o impacto da surpresa

mais que o fino gelo que eriçava-lhe os pêlos.

 

Não sabia ao certo a extensão da perda

e apalpava com pejo a inocência queimada.

Ideogramas desfiguravam-se revelando

molhados segredos ancestrais.

 

Restava-lhe a certeza do degelo.

 

esquinas 
romina conti

há um céu que se divide

entre azul e cinza e nuvem

 

há carneirinhos em seus cabelos

e lésbicas rodando bolsinha

 

na manhã de minha sopa quente

há barbitúricos e cocaína

 

no clitóris da paisagem

há uma engrenagem nuance

 

entre azul e cinza e nuvem

há um céu que se divide

 

 

 

 

 

 

 

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