edição 14
| março de 2007
cinema
instinto selvagem
adelaide do julinho
na penumbra, sem calcinha,
cruzo as pernas, que gracinha:
acendi o lanterninha
o lanterninha
adriana oliveira
No escurinho do cinema, o lanterninha se masturba. No escurinho, também, ele chora. Apaixona-se. Tem filhos. É ladrão, bailarino, herói e louco. Homem, mulher ou travesti. É russo, chinês, alemão, americano, é brasileiro. É senhor do tempo e do espaço. No escurinho do cinema, o lanterninha dorme, sem sonhos.

festa
bruna beber
e então me vejo resumida a um jogo
de peças de dominó enfileiradas
no centro da sala
ao primeiro toque posso desmoronar,
e desmorono, velozmente, 28 retângulos
de madeira caem lânguidos
plequeplequeplequeplequepleplequepleque
uns por cima dos outros e todos ao chão
amontoados como corpos
e ao toque de cada peça sobre cada peça
um foguete pirotécnico colorido sobe
ao céu, e tudo que é meu sobe junto
um espetáculo de vinte e oito foguetes
pirotécnicos coloridos dentro dos olhos
das pessoas que olham o céu neste momento
eu não olho, tenho algo mais importante
para ver, mas estou cego de repente,
a luz se esfarela, onde estou?
consigo medir o estrondo do acontecimento
pelo silêncio do instante que precedeu
a queda das peças
é deste tamanho o acontecimento!
a mágica de um segundo valeu
o tempo do enfileiramento
é possível medir o choque do acontecimento
pelo pouco volume em minha voz
o resto não meço.

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