Virna: Um autor deve ser bem informado, deve andar por aí de olhos bem abertos.

 

 

Marília Kubota - O poeta tem início? Como você começou a escrever e ler poesia e literatura?

 

Virna Teixeira - Sempre há algum início. Comecei a ler poesia na infância, por causa dos meus pais. O interesse pela poesia e literatura surgiu muito cedo. Comecei a escrever poesia na adolescência, de forma bem errática e depois de maneira mais regular após os 20 anos. 

 

 

MK - Como foi lançar seu primeiro livro? Você teve desejo de publicar?

 

VT - Escrevi Visita na segunda metade dos anos 90. É um livro que tem pouco menos de 30 poemas. Saiu pela 7Letras em 2000. Houve esse desejo de publicar, que é inexplicável. Foi um impulso mesmo. Lançar um livro é curioso, parece que você oficializa alguma coisa. No primeiro livro, você tem expectativas maiores: de resenhas, de aceitação, acho. Depois isso passa, não importa muito. O livro é um gesto.

 

 

MK - Quais os seus livros de cabeceira?

 

VT - Destruição do pai, reconstrução do pai, de Louise Bourgeois — abro em qualquer página, é uma leitura que retomo sempre. The autobiography of Alice B. Toklas de Gertrude Stein (outros livros dela também): Gertrude Stein é muito divertida e sempre muito atual. Que mais? Há sempre alguma leitura em torno da Psiquiatria, é um tema que me interessa.

 

 

MK - Você acha que a crítica tem importância na literatura contemporânea? Como lida com a crítica ao seu trabalho?

 

VT - Sinceramente, não me importo com a crítica. Há toda sorte de críticos e motivações, poucos são de fato interessantes. Há muito conservadorismo aliás, e visões distorcidas da contemporaneidade. O maior crítico do trabalho deve ser o próprio autor. Um autor deve ser bem informado, deve andar por aí de olhos bem abertos. Isso não se restringe à literatura, evidentemente.

 

 

MK - Quais são seus projetos atuais em literatura?

 

VT – Atualmente, ando envolvida com uma editora de livros artesanais, a Arqueria. Saíram cerca de 6 títulos até agora, passando pela tradução e também pelo trabalho de outros autores como Horácio Costa, Antônio Moura e uma poeta que publicou sua primeira plaquete, a Daniela Ramos. Recentemente, publiquei dois livros pela Lumme Editor: Trânsitos, meu terceiro livro de poemas e Cartas de Ontem, traduções do poeta britânico Richard Price. Também, uma plaquete pela Arqueria, com 7 poemas recentes, Como suturar lembranças.

 

 

MK - E quais os futuros?

 

VT - Prosseguir com as publicações da Arqueria, há mais umas 3 ou 4 plaquetes para o próximo semestre. Este ano tem sido agitado, estive às voltas com outros projetos também. No momento, não tenho escrito nada. Estou tomando fôlego. É preciso deixar o trabalho respirar, refletir sobre ele e pensar o que você vai fazer depois.

 

 

 

 

Julya: "Crítica" me soa algo como "o mercado", "a mídia", expressões que fazem com que essas coisas feitas por homens, por um conjunto de individualidades, pareçam uma massa fria e autônoma.

 

 

Marília Kubota - O poeta tem início? Como você começou a escrever e ler poesia e literatura?

 

Julya Vasconcelos - Se tem um início, eu não sei. Também acho engraçada essa idéia do inato, porque é um pouco esotérica. Sou um pouco esotérica, mas não sei não. O que eu sei é que minha primeira lembrança é um livro de capa verde e dura, muito escura que tinha na estante da minha casa, que era do Drummond. Quando comecei a ler na escola, puxei ele dali, porque me chamou a atenção um desenho em baixo relevo de uma mulher. Fiquei abismada com o poema da mão suja, que me parecia um filme de terror, cheio de palavra difícil e sonora. Pouco tempo depois, comecei a escrever uns poemas completamente drummonianos, o que provocava uns risos mal disfarçados na minha mãe. 

 

 

MK - Quais os seus livros de cabeceira? 

 

JV - Avalovara, Rayuela e Altazor.



MK - Você  acha que a crítica tem importância na literatura contemporânea? Como lida com a crítica ao seu trabalho? 

 

JV - Não me sinto à vontade para falar de "crítica". A "crítica" me soa algo como "o mercado", "a mídia", expressões que fazem com que essas coisas feitas por homens, por um conjunto de individualidades, pareçam uma massa fria e autônoma. Falar de crítica é muito difícil. Crítica pra mim (seja literária, cinematográfica, de artes plásticas), no sentido ideal, é também um processo criativo e de mergulho, individualíssimo, e encarada assim me parece válida em qualquer tempo. Uma crítica é mais uma opinião, faz a gente pensar. Agora crítica leviana, sem mergulho e sem criatividade já é outra coisa totalmente descartável.

 

MK - Quais são seus projetos atuais em literatura?

 

JV - Fiz o que muitos escritores abominam: entrei em um mestrado em literatura latino-americana. A escrita anda um pouco de lado (infelizmente), pois entrei pro lado negro da força, vesti "el traje negro y la corbata de las disertaciones magistrales", como diria o Cortázar.



MK - E quais os futuros?

 

JV - Afrouxar a gravata o mais breve possível e pôr em prática uma ideia que não me deixa em paz desde que li o Felisberto Hernández. Vontade de prosear um pouquinho maior.

 

 
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