edição 47 | julho de 2014
temas:  gato escaldado tem medo de água fria | ilha | alçapão

 

3 poemas
silvana guimarães 


armazém

 

 

o preço do cará anda

pela hora da morte como

a maldade dos homens

 

a indiferença

a insensatez

me tres

passam

 

sobressalto-me

 

nem átona

nem tônica

nem ostra

nem âmbar

 

ando farta da vida

e de você, meu bem

 

mas às vezes o coração

bate tão forte que

mal me reconheço

 

 

 

 

honoris causa

 

 

john donne disse que

nenhum homem é uma ilha

 

ele não conheceu asdrubal

o grande: o da tromba

 

por quem o sol brilha

e todos os sinos dobram

 

eternamente cercado de

si-mesmo por todo lado

 

 

 

 

a caça

 

 

cão não: gato

gato não: rato

rato não: ato

 

1 9 6 4

 

ato sim: massacro

sem cão gato ou sapatos

homens não: ratos

 

 

 

for (q) ilha
tati skor 


 
 
 
 

 

 

6 poemas
valéria tarelho 


outra fria

 

 

você pensa que o passado passou, mas, de repente, aí está ele: mal passado no seu presente amarrotado.

aceite ou rejeite, baby.

não adianta fazer fita.

 

 

 

 

assalto

 

 

o amor pode

atingir o peito

ou fundir a cuca

 

na dúvida

[se é real

ou de brinquedo]

não reajo

 

 

 

 

nunca se sábado

 

 

onde você aos sábados

em que boca seu hálito

 

seu olfato seu arfar seu ofertar

o afã o êxtase o arrefecer

 

em que [a]braço você mora

de que jeito a provoca

 

[e se na hora exata

meu nome lhe escapa

peito a fora]

 

por acaso neste ato

seu texto toca

alguma fêmea forma

 

ela é feita de poema

ou prosa farta

 

          ?

 

não quero saber

 

 

 

 

mensagem na garrafa

 

 

o amor mandou lembranças e diz que não morreu. andou por aí, mudou o endereço, conheceu outro amor. teve um par de filhos. dois amorzinhos.

 

viveu de amor até que o [a]mar doce [a]mar azedou. o amor — a dois — adoeceu. foi cada amor para um lado.

 

meio que despedaçado, o amor, agora livre, pede que lhe diga que ainda respira. pulsa. por ti. e te quer por perto. porto seguro. blá-blá-blá, whiskas sachê a quatro que cansei desse papo.

 

o amor, querida,  aquela  ilha paradisíaca que você daqui avista, não é nenhuma maravilha. é cheia de buracos. esquenta e esfria, às vezes no mesmo dia.

 

fatalmente a fará feliz da vida. até o próximo naufrágio.

 

 

 

 

poema preservativo

 

 

evito tudo

contigo

 

medo do desconhecido

me dá filho na barriga

 

 

 

 

[arma]ilhas

 

 

o que abrolhos não vê

curaçao não sente

 

 

 

 

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