edição 3
| dezembro de 2005
3 sonetos soneto
VII Para Mayrant
Gallo Pelo esforço de viver
todo o meu corpo
dói. Duvidar é também
ser enquanto o corpo corrói. A vida é um eterno tecer -
um ergue, outro
destrói. Livros já desisti de
ler, mas o meu miolo
remói e remói sem
porquê e com porquê o que é
pior, resta um certo
querer é o meu medo
maior, fio que é ter e não ter
- multidão
super-só. soneto
IX Na hora imprecisa da
tarde caminha um sujeito
estranho (nada único, tudo é
estranho), hora em que o mundo
encarde. Sua presença é um sem
alarde, mas a vontade é um
destamanho. E saiba que tudo é
destamanho no segundo indeciso da
tarde. Sombra que vai alameda
acima sem século que a
contenha,
eternefêmera que se
arrima. Por mais que insistir
venha na ida em que toda se
esgrima será sempre uma sombra nas
brenhas. soneto
XIII Para José Inácio Vieira de
Melo
Para poemas não há armadilhas como arapuca para
passarinho. Pode persegui-lo milhas e
milhas ele continuará livre e
sozinho. Um poema é um barco sem
quilha, que se afunda ao toque
mesquinho. Água que não se encerra na
vasilha, e nem adianta rudeza ou
carinho. É como se tivesse vida própria e ao artesão mais fino ele
se nega. Quantas vezes é apenas uma
cópia. Uma coisa pensada, outra se
pega. E aí o soneto apresenta sua
inópia: sonhou fada e acordou bruxa cega.
soneto despedida comunique ninguém pro
funeral
daquela filha o único
sinal
economize o chão do
cemitério
cultive esse segredo e eu te
protejo
3 poemas
* só
quero o que seja prumo
meu endereço é onde adormeço
despertando
rumos
*
tarde de
primavera
*
você anda em bando eu ando abandonada
as fiandeiras
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