edição 22 | novembro de 2007
tema livre ou diadorim

 

3 poemas
valéria tarelho
   

à francesa

 

1

 

nada sei

a não ser

do seio

do nada

 

: nódoa

que detona

tecidos

 

: nódulo

no dedo [médio]

do tédio

 

nada

nas mamas

calejadas

da poesia

 

ainda encontro a cura

 

seja na bula

na bíblia

na cabala

 

uma fuga

na bala

na agulha

 

 

2

 

nada sou/

serei

a não ser

um sopro de

savoir-faire

 

: adega

— demi-sec —

do saber

 

: adaga

— cega —

da sabedoria

 

nada

na língua

flácida

da poesia

 

ainda acho abrigo

 

seja nos livros

nos discos

nos vídeos

 

alguma verdade

na vaidade

no vício

 

 

3

 

nada sei

além do que

não paira

mínima

dúvida

 

: tudo enfim

finda

em nada

 

ainda resta uma saída

 

 

 

ego

 

eis-me aqui

diante do espelho:

um nonsense

 

face

&

disfarce

 

eis-me aqui

um contra-senso

 

reflexo

&

avesso

 

eis-me aqui

ante meus versos:

uma antítese

 

imagem

&

miragem

 

a bem da verdade

reconheço o que viso:

 

um oásis de vaidade

pregando no deserto

 

eis-me aqui:

 

narciso

&

eco

 

 

 

metástase

 

este êxtase

que me tira

a sanidade

é razoável

mentira

 

p o e s i a

:

meias-verdades

fraudes quase

com ênfase

nas frases

(pseudo)feitas

 

febre

que quando não ferve

fibrila

 

fabrica

o que nem sempre fui

forja o que não foi

sequer idéia

 

chinatown
virna teixeira

da bolsa de mão deixa cair a arma

a dupla identidade da assassina

 

suspense na sala de espelho

disparos na sombra, estilhaços

 

'em shanghai é preciso mais que sorte'

 

na costa do atlântico

um vórtice de tubarões feridos

tinge de sangue o oceano

 

o sol evanesce no poente

 

 

 

 

 

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