edição 20
| setembro de 2007
carta de despedida a deus há deus adeus
uma carta
para antonia Primavera, setembro de 2007.
Aprendi a fazer vários tipos de envelope através do origami. A milenar arte oriental da dobradura do papel.
As dobras devem ser precisas, a concentração redobrada e a paciência cultivada.
Os dedos devem tocar o papel delicadamente, como se toca o corpo de quem se ama, com respeito e admiração.
Pensei em usar as duas artes, a do origami e a da caligrafia. Pensei em usar papel artesanal.
A ponta da pena tocando delicadamente a superfície do papel e fazendo com que a tinta penetre nas fibras. A tinta se espalhando lentamente, criando linhas, círculos e traços.
Formando palavras que ora apresentam um significado, ora outro.
Nunca escrevi um haicai, um poema ou uma carta de amor.
Agora Antonia vai pra longe, pra longe dos nossos olhos.
Vai conhecer outras pessoas, outra realidade, outros mundos. Vai escrever um romance.
Nosso lado mesquinho quer pedir, suplicar, implorar a ela que fique. Não podemos, cada um tem um caminho a seguir, o caminho que conquistou.
O nosso será esse, o das palavras e da saudade.
Vá, minha amiga, com a bênção dos deuses. Não se esqueça de nós. Estaremos aqui, torcendo, invejando e escrevendo.
Sua amiga suicida,
Tereza
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