edição 19
| agosto de 2007
sono não sei de onde surge a sensação que se transforma em idéia fixa nos tira o sono nos mantém vigilantes e nos molda o apetite. não sei, comigo aconteceu de repente, num dia em que eu estava feliz e o olhava em seu sono tranqüilo. ele sempre dormiu tão bem. dele, dizer-se-ia morto não fosse o barulho da boca, um silvo engraçado. olhava-o por olhar. e então o fel saiu do estômago, subiu à garganta e fez um nó no coração. ele me trai, pensei. a raiva não demorou a chegar, completando a trinca perfeita com coração e estômago, ambos contaminados. porca miséria, não à toa a contratação de secretária nova, camisa nova, inauguração de estádio de futebol. ele me trai, pensei. a que horas? deixei de olhá-lo por olhar, procurava por sinais na boca, nos olhos, nas mãos, nos bolsos. perguntava a todo momento, a que horas o jantar? ele ria, minha filha, você anda estranha, a hora de sempre, ué. fui a uma cartomante, ela é morena, muito jovem, cuidado, vejo dinheiro e uma criança. enlouqueci. não encontrava nada que pudesse confrontá-lo e às mentiras e à amante. nada. só a concretude do fel em minha garganta. a essa altura eu já não carecia de qualquer estímulo para acabar com a agonia que ele me causava. pus fim à sua vida da mesma maneira que ele tentou dar cabo da minha: durante a noite, na hora exata em que o doce silvo em sua boca anunciou a profundidade do sono.
consentido Os sentidos são seis. Tato.
Olfato. Audição. Visão. Paladar. A alucinação fica por conta
de vocês. Há os que prevêem o
futuro. Há os que vêem no
escuro. Há toda uma gama de
realidade q faz parte da minha realidade e. Para mim os sentidos são
16. 16 beijos
perdidos. 16 acordes que
aprendi. 16 vezes
medo. E algum que guardo como
segredo.
a vidente Adivinhava com precisão a data do falecimento de cada pessoa. E atendia a todos que a procuravam para saber quando morreriam. Até o dia em que ela recebeu a própria morte.
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