edição 16
| maio de 2007
de
abacaxi Fico
perto de meus semelhantes, os de fruta ficam longe dos com leite. O rapaz
vai gritando: tem cremoso, tem com fruta. Quarenta graus. Saí da forma há
oito horas, estou no fundo do carrinho. Vejo a luz entrar entre nós, pelas
laterais, o rapaz deixa um ou outro tombar, procurando um côco queimado.
Depois bota tudo no lugar, sem alterar minha rota. Colegas
de limão e uva vão desaparecendo ao meu lado, quase caio sobre o de
goiaba. Chocolate é mais caro, com granulado dobra o preço. Ainda não vi
de melancia, de onde vim, não fazem. Quero
dois de abacaxi, pediu uma senhora. A tampa do carrinho se abriu mais uma
vez. Ouvi os cremosos em pote sendo tirados do lugar sem cair, ele tem
muito cuidado com os de pote. Sundays de morango e
baunilha. Foi
abrindo-se uma clareira e o amigo de cima foi retirado, fiquei de cara com
o rapaz de uniforme vermelho. O céu azul, a senhora loira lembrou, quero
mais um. Fui
erguido, enfim. O verão chegou pra mim. Das mãos dele para as dela, já
transpirei um bocado. O suor escorria em meu vestido amarelo.
O
rapaz seguiu gritando. A senhora sentou-se ao lado de um menino. Filho,
peguei um pra você. Fui entregue ao garoto, rasgou com os dentes minha
embalagem, a língua quente resgatava meu suco indo embora, alcançando os
punhos. Não me mordia, deixou-me de frente pro mar, diminuindo meu tamanho, lambendo aos poucos. Ofereceu-me ao sol, toda minha fruta, minha água, até chegar ao palito.
frasqueira não me emocionam mais os
surtos heróicos de marina para segurar o que
já vai arranhando as unhas nas
paredes do precipício e deixo
cair os espasmos de saudade que
marina sente do que perdeu porque não
cuidou não me emocionam
mais ah, a juventude, a de marina
segue relapsa fazendo de conta como nos
livros infantis e aquela fantasia não me
emociona mais uma
pena meu coração parou de
bater na tecla que marina chama de
destino e agora o que marina chama
de amor eu não atendo
mais.
fragile, de jean paul gaultier o
tiroteio balança o berço, balas
passeiam ao luar, noticiário alardeia: "o
mundo está em chamas!" e João
e Maria rolam na cama igual a todos
os dias, jornais
sussurram pavores e horrores e
carinhosamente adulam as madames: "off
price" no shopping do caralho e
por que a surpresa do sangue no assoalho do
trem, metrô, ônibus e andaimes e
nas manhãs do café requentado e pão dormido e
no jantar com a mulher desfalecida é
assim que muitos vivem com o cheiro de carne sem vida
e
a noite na viagem de rotina não sentem o perfume das estrelas.
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