edição 15
| abril de 2007
soneto búzio que nem das tribo pobre sai
os índio norte arriba com rastro de
suicídio? minha mula refuga na
partida cunhambebe no sangue
distraída tomo o rumo das mata
precipício desemboco beirando o
município na toca da josefa onça
fugida toco de camburi pra
caçandoca rasgo minha ubatuba ponta a
ponta de um quilombo pra outro oca
em oca cada areia que um búzio a
praia encontra rastros de meus refúgios
tribos tocas volto pra itamambuca em
mim... só... outra
múltipla escolha
o chá da xícara de mergulhos
acabou
as paredes nuas nos
denunciam nossos olhos não têm mais
para onde fugir me refugio, então, em tuas
pupilas até que um varrer de
cílios recomponha o
instante
![]()
natália Natalício, Não se afflija que é uma
cousa muito natural, tendo de rebentar-se a revolução e João não querendo
mais separar-se de mim, resolvemos fugir para nos cazar-mos logo; aqui o
Padre não fazia o casamento sem os papeis, mas em Recife tem um Frade
amigo de João e faz o casamento, de accordo com o irmão delle. Nestes 3
dias te telegrapharei participando o casamento. Saio como o soldado que
vae para a guerra, só voltarei aqui com os louros da vitória; te conforma
que é o meu destino, e se por ironia da sorte, não sair a medida dos
nossos desejos, nunca mais saberás noticia minha, nem elle próprio que vae
comigo, para isto levo um revolver. Não saio com outro intuito a não ser
de cazar-me o mais breve possível; voltaremos breve para dar-te provas.
Como sabes, sempre vivi muito em casa de Hermelinda, não vá se queixar
dellas que nada sabiam, estão inocentes como tu estás. Os únicos culpados
sou eu e elle mesmo. Assim como tu tens uma verdadeira amizade a tua
noiva, assim também eu tenho ao meu, por isto resolvi fazer isto, saio
porque conheço que o homem a quem dediquei o meu amor é digno delle,
porque me retribue com a mesma amizade sincera e que soube me respeitar
até a data presente, por esta grande prova de um homem, merece que eu
deposite nelle toda confiança. Se Oscar mandar um vestido pra mim, você
faça presente delle a Dida, e se elle mandar o dinheiro, você compre
qualquer cousa para seu casamento. Vou terminar pedindo a Deus
que te dê felicidades no teu casamento, e resignação para supportar o
desgosto que te dou; espero ser perdoada, a irmã que nunca te
esquecerás,
Natália
Nota da
autora: Esta carta foi guardada como
segredo de família por aproximadamente 75 anos e revelada depois que
publiquei o livro de poemas Natália, em 2004. Até então, só
sabíamos que minha tia-avó havia fugido para nunca retornar, que todos os
seus pertences foram queimados em um baú em frente à casa que morava, e
sua história cercada de silêncio. Natalício era seu irmão e meu avô.
Transcrevo abaixo o pequeno texto de abertura do livro que leva seu nome
como título: "Minha tia-avó se chamava Natália. Um dia fugiu com um tenente da volante, a milícia que caçava o cangaceiro Lampião pelas matas do sertão de Pernambuco. Nunca mais voltou. Em nossa família desde então seu nome silenciou, desterrado e proscrito, é proibido pronunciá-lo". [Jussara Salazar]
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