Ela: O gosto do seu corpo começa A se estender a partir da cama, Toma o quarto, ganha a sala, Por dentro de mim se enrama.
Como um Midas que se confessa E pode comer o que inflama Com o seu toque, com a sua fala; O gosto do seu corpo é a chama
Que não consome, mas mantém Ardentes os cristais da vontade, Contigo tudo posso, tudo convém.
Ausência? É tentar negar a unidade, O gosto do seu corpo está aqui, além, Caminha comigo dentro da tarde.
Ele: Amor meu, a suavidade maior É não dizer e lento como uma ave Que plana na corrente única e só, Mirar o mundo, esta pobre nave,
Que para Deus é um grão de pó. Mas o meu canto é a minha chave Que, se não desata, nem o górdio nó Corta, é o meu modo de ser suave.
Toma este canto como quem caminha Dentro da tarde com o meu gosto Que não é ausência, e na longa linha
Do horizonte onde o quase sol-posto É a tela que se sonha marinha, A suavidade maior é o seu rosto.
soneto fé na frente a gente leva a insegurança
o medo cai no choro de criança
meu medo é meu segredo é meu amor
falta de fé é não ter nem pão na pia
acalanto serão bonecas de pano deitando ao meu lado pesadelo desperto com um grito já aprendido no ventre. freud não saberia porque comi tanto ontem à noite nem lavaria louça do jantar. à francesa, boneca de porcelana, abortada do sótão para o saco de lixo: o medo chama-se mamãe.
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